sexta-feira, 23 de março de 2007

Previsão climática para municípios da grande Florianópolis no período de 24/03 a 28/03/2007



















A CONSERVAÇÃO DE CALOR EM COLMÉIAS DE ABELHAS AFRICANIZADAS E SEU DESENVOLVIMENTO NO INICIO DA PRIMAVERA
James Arruda Salomé. Perito Apícola. MSc.
E-mail: arrudasalome@gmail.com
Telefone: 48 8407 8677

Uma das grandes preocupações do setor produtivo diz respeito ao potencial de arranque das colméias em seu crescimento, após o inverno, e no inicio do ciclo de fluxo de néctar e pólen primaveril. Este potencial de crescimento dos enxames após o inverno vai determinar a quantidade de abelhas a serem criadas para a nova temporada, e que de seu sucesso, vai depender a colheita, junto com fatores internos nas colméias como manejos, rainhas e de fatores externos como qualidade e quantidade de floração e o clima.
Em regiões com clima que apresenta estações marcantes, como inverno com frio característico e grande amplitude térmica, é importante propiciar as colméias de abelhas africanizadas o espaço necessário à boa conservação de calor, afim de que os enxames não esgotem suas reservas de material energético antes de terminar este período crítico.
As abelhas desenvolveram estratégias que permitem sobreviverem a esta estação desfavorável, que é o inverno. Para controlar a temperatura interna do ninho, as abelhas se amontoam formando um aglomerado em forma de bola. O enxame assim amontoado tem controle de sua temperatura, independente da temperatura ambiental. Durante a temporada de maior atividade, as abelhas formam um aglomerado ao redor da área de cria e tem capacidade em regular sua temperatura e umidade. À medida que a temperatura vai baixando, este aglomerado torna-se mais definido. Para que este aglomerado de abelhas se torne definido, a temperatura externa deve ser de aproximadamente de 14°C. A partir desta temperatura, as abelhas que estão no centro do aglomerado geram calor através do consumo de mel, irradiando este calor através do corpo para a parte mais externa do aglomerado, onde estão as abelhas que servem como isolante térmico.
Desta forma, a temperatura dentro do aglomerado fica ao redor de 34°C, necessária para a manutenção das funções vitais das abelhas. É possível constatar este fenômeno na prática, abrindo uma colméia no inverno e colocando a mão sobre o local do aglomerado de abelhas, notar-se-á que a diferença de temperatura ambiental e sobre o aglomerado é grande. Por isto que abelhas africanizadas instaladas em colméias Langstroth, utilizam apenas oito dos dez quadros do ninho para a geração de cria, pois os dois últimos quadros das laterais externas são regiões frias da colméia, não permitindo a criação de abelhas. Somente em regiões quentes, como no nordeste do País, entre outras, é possível encontrarmos os dez quadros de ninho ocupados com cria.
Esta observação sobre necessidade de calor das abelhas está diretamente relacionada com o tamanho do enxame, reservas de alimentos de natureza energética e a proporção do espaço nas colméias, determinado pelo apicultor durante os períodos mais frios do ano.
É comum observarmos os apicultores deixando durante o período crítico de inverno as sobre caixas vazias sobre os ninhos, e que não são ocupadas pelas abelhas, pois em baixas temperaturas o aglomerado se torna definido e geralmente se encontra na câmara de cria, próximo das reservas de alimentos.
Este espaço adicional (não necessário) muitas vezes acaba por prejudicar a passagem do enxame pelos períodos críticos de inverno, pois há necessidade em consumir grandes quantidades de mel para manter a temperatura adequada do ninho em dias frios e que por muitas vezes este alimento armazenado termina antes de iniciar novo ciclo de floração e aumento de temperatura.
Este fator tem sido decisivo para o atraso do crescimento dos enxames no inicio da primavera. Assim como, a colocação de material sobressalente desnecessário no inicio do crescimento dos enxames na primavera, faz com que ocorra dificuldade por parte das abelhas em manter a temperatura necessária para a geração de cria, trazendo como conseqüência estagnação no crescimento da população de abelhas.
Para que os enxames passem os períodos críticos em bom estado e que ocorra crescimento rápido no inicio da primavera é importante suprir somente o espaço necessário que as abelhas possam utilizar momentaneamente. Compreendemos as dificuldades em retirar sobre caixas durante a entre safra, conserva-las em depósitos de material apícola sem o ataque de traças e depois devolve-las na hora certa, a fim de evitar enxameação, quando inicia o novo ciclo de floração. Também sabemos a dificuldade em conduzir o crescimento dos enxames no inicio da primavera, propiciando somente o espaço necessário naquele momento. Estas operações são custosas, denotando grande força de mão de obra e operações repetidas, principalmente em apicultura com muitas colméias em produção.
A entre tampa é peça de fundamental importância em apicultura, principalmente nas regiões do sul do Brasil, onde a estação fria é marcante. Este material confeccionado em compensado com furo central e moldura em madeira para propiciar o espaço – abelha (figura 1), quando disposto acima do ninho em que as abelhas estão ocupando, propicia a permanência das sobre caixas sobre as colméias em períodos de entre safra, evitando a retirada das mesmas; pois; as abelhas passando pelo furo conseguem manter limpos os favos contra a traça da cera sem perder o calor necessário para o aquecimento do enxame, nas temperaturas amenas de inverno. Quando o frio aumenta, as abelhas utilizam o corpo para isolar o furo central da entre tampa, fazendo com que o calor gerado na câmara de cria permaneça neste ambiente. Se ocorrer antecipação das floradas no inicio da primavera, as abelhas passam pelo furo da entre tampa e começam a depositar as cargas de néctar nos favos das sobre caixas, sem qualquer prejuízo ao desenvolvimento de seu trabalho normal, e de falta de espaço, evitando desta forma a enxameação no inicio da temporada. Quando ocorrerem as primeiras revisões de primavera, o apicultor troca a entre tampa de posição, dispondo-a abaixo da tampa e abrindo todo o espaço necessário à continuidade das atividades das abelhas. Os serviços relacionados à retirada de sobre caixas em períodos de escassez de alimentos e/ou frio, transporte destas aos depósitos de material apícola, controle de traça da cera, reposição do material no inicio da temporada e perdas de abelhas por enxameação por congestionamento dos ninhos correspondem à cerca de 35% de todos os custos referentes à atividade apícola. Por isso, o uso desta peça nas colméias em apicultura racional e produtiva se faz necessária.
Alem de propiciar a permanência das sobre caixas durante períodos de frio, a entre tampa possibilita a abertura da área de trabalho para as abelhas de acordo com suas necessidades momentâneas, fazendo com que se possa ir subindo a entre tampa gradativamente acima das sobre caixas que vão sendo ocupadas, até posicioná-la abaixo da tampa.
Aliado a outros fatores, o aquecimento necessário dos ninhos no inicio da floração determina o arranque de crescimento das colméias que se encontram na produção, progredindo rapidamente quando as abelhas conseguem manter temperaturas ideais para geração de cria, e progredindo com menor intensidade quando não conseguem manter esta temperatura ideal para criar abelhas por causa de excesso de material sobressalente.
Além disto, atualmente, já está sendo levado à linha de produção para fabricação em escala comercial no Brasil o escape abelha para facilitar o trabalho de colheita de mel das sobre caixas. Esta peça composta de duas partes se encaixa perfeitamente no furo da entre tampa, e que quando colocada 24 horas antes da colheita, propicia a descida das abelhas das sobre caixas para os ninhos, impedindo seu retorno, esvaziando totalmente em abelhas as câmaras superiores do conjunto, onde está o mel. A utilização deste material durante os períodos de colheita de mel traz maior conforto e rapidez ao trabalho, sendo que as sobre caixas são retiradas de uma única vez sem utilização de fumaça, e sem sacudir os favos individualmente para excluir as abelhas aderentes. Seu uso em conjunto com a tela de transporte de alvado colocada no momento da colheita, dispensa fumigador, assim como, macacões e mascaras durante a retirada do mel, mesmo com abelhas africanizadas agressivas, pois as mesmas estão bloqueadas no interior dos ninhos.